Ouvir áudios e vídeos em velocidade acelerada, prática também conhecida como “podfasting” no mundo anglófono, começou a fazer parte da minha vida há cerca de três anos. Eu nem sabia que isso era “uma coisa”, quando observei que o meu marido escutava podcasts e audiolivros na velocidade 2.5x. Para mim, aquilo beirava o ininteligível e parecia que eu estava a ouvir uma conversa de Tico e Teco ou de qualquer outro esquilo da Disney.
Foi então que bateu a pandemia e o pensamento coletivo de “vamos aproveitar esse período como uma oportunidade para desacelerar” logo deixou de ser verdade. Eu ocupava as horas de descanso com cursos e conteúdos educativos que a minha capacidade mental já não dava mais conta. Quando descobri a extensão do Chrome que permite acelerar os vídeos, foi o estímulo que faltava para eu começar a consumir mais conteúdo em menos tempo.
Não demorou muito para que eu também começasse a ouvir alguns podcasts e audiolivros em 1.2x – uma velocidade que na minha percepção não interfere na interpretação do conteúdo e ainda permite espaço para a espontaneidade na fala da pessoa que está apresentando.
Contudo, enquanto eu preservava os podcasts narrativos e conversacionais desse novo hábito, o mesmo não acontecia com os podcasts explicativos/educativos e audiolivros que também competiam pela minha atenção. Esses eu passei a ouvir a 1.5x, reduzindo um conteúdo de uma hora a “apenas” 40 minutos. Não preciso dizer que nessa altura eram poucas as pessoas cujos áudios de Whatsapp eu não ouvia a menos de 2x.
Um tempo atrás fiz um post no Twitter (e também perguntei diretamente a vários amigos) para tentar descobrir o que a galera pensava acerca desse comportamento cada vez mais comum. Fiquei surpresa, pois parece que existe o time do “adoro, faço sempre” e o time do “perdi a fé na humanidade.”
Recentemente, também descobri que o processamento da fala em velocidade acelerada já foi tema de pesquisas muito antes do podfasting virar tendência. Como neste estudo da Universidade da Califórnia, em que os autores abordam o chamado “compressed listening” ou escuta comprimida. Outra fonte científica é a pesquisa da Universidade da Flórida sobre “O uso da compressão de tempo para tornar o aprendizado multimídia mais eficiente.”
Em linhas gerais, diversas fontes de pesquisa apontam que falamos cerca de 150 palavras por minuto e que uma pessoa adulta tem a capacidade de ler cerca de 250 palavras por minuto. Levando em conta esse dado, alguns estudos sugerem que o cérebro humano consegue sim processar informações que são apresentadas em velocidade acelerada.
Um artigo mais recente, da Normal University de Taiwan, realizou um experimento com alunos de graduação apresentando-lhes palestras nas velocidades normal (1.0x), rápida (1.5x) e muito rápida (3.0x) para entender como isso afetava atenção, o esforço cognitivo e o aprendizado dos alunos. De acordo com os pesquisadores, não foram identificados prejuízos significativos na compreensão quando palestras eram transmitidas entre as velocidades 1x e 1.5x. Acima disso, contudo, a pontuação dos alunos caía e foi detectada maior necessidade de atenção e esforço cognitivo.
Esses estudos não vão mudar a minha vida e tampouco a sua. Cada um tem o seu livre-arbítrio para consumir áudio (ou vídeo) como quiser. Da minha parte, posso dizer que de uns tempos para cá comecei a impor limites a esse hábito, mesmo que isso signifique consumir menos podasts e audiolivros.
E você, o que acha de ouvir áudios em velocidade acelerada e como tem consumido podcasts, audiolivros e vídeos nesse mundo de FOMO¹ digital e hiperinformação?
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¹ F.O.M.O. é uma gíria que significa “Fear of Missing Out ou “medo de ficar de fora.”
Eu escuto podcasts em português entre 1.8 e 2.
Em inglês entre 1.2 e 1.5.
Nosso cérebro é flexível.
Algumas pessoas falam rápido demais (em relação às outras) e mesmo assim as entendemos, não é?
Você não falou nada sobre a remoção de silêncio. O que acha disso? Alguns aplicativos têm esta opção.
Oi Galo!
Verdade, eu acho a ferramenta de remoção de silêncio bem útil, muito embora, em contextos de entrevista principalmente, penso que o silêncio tenha um papel importante pois ele também representa algo. É claro, se estou ouvindo um podcast mais técnico ou explicativo sobre um tema, os silêncios acabam por não ter muito sentido mesmo, então para mim depende do tipo de conteúdo.