Estamos vivendo “o ano do podcast no Brasil” desde dois mil e [insira aqui um número], mas foi no segundo semestre deste ano de 2022 que um podcast gerou, pela primeira vez, comoção nacional. Da espetacularização de uma história por meio de memes e dancinhas do Tik Tok até o aumento em 123% nas denúncias de trabalhos análogos à escravidão, A Mulher da Casa Abandonada estourou todas as bolhas.
O seu criador, o jornalista Chico Felitti, foi convidado até para participar do quadro Passa ou Repassa, do Domingo Legal, um dos programas mais populares da TV Brasileira. Quando a gente iria imaginar que um podcast narrativo ganharia tanto espaço em um meio de comunicação de massa? Ainda mais aqui, onde o formato mesa-redonda parece ter sido o que mais emplacou.
Em meio a todo aquele frisson, entre comentários de fãs, haters e aspirantes a críticos da mídia, eu só conseguia pensar: parece que a gente chegou lá; agora podcast é pop, e como diria Humberto Gessinger “o pop não poupa ninguém.” Na minha leitura, esse movimento de adoração, crítica e infelizmente espetacularização de um tema tão sério por parte de alguns grupos são aspectos naturais do processo de transformação de um formato indie para o mainstream. E ao utilizar “formato”, me refiro de fato ao formato narrativo documental, ao qual os ouvidos brasileiros não estão acostumados.
Todavia, isso finalmente está mudando e devemos observar uma evolução positiva no comportamento do ouvinte. Li e ouvi de várias pessoas “agora fiquei com vontade de consumir podcasts parecidos com esse.” É como gostar de queijos e vinhos. Conforme você vai conhecendo e tomando gosto, passa a se interessar por sabores com mais complexibilidade. Esse momentum também é otimista para os produtores, já que audio dramas e documentários requerem uma equipe robusta, ou seja, mais podcasts narrativos igual mais oportunidades de trabalho. Inclusive, se você gosta desse tema, ouça a minha conversa com a jornalista e produtora de podcasts freelancer Beatriz Trevisan, que produziu A Mulher da Casa Abandonada e escreveu um dos episódios.
É importante ressaltar que, embora se apresente como uma novidade dos tempos de hoje, as histórias em áudio remontam das radionovelas. Como bem pontuou o colega colunista Andrei Rossetto em entrevista ao A Era do Áudio, “os roteiristas das radionovelas e rádio-teatro já usavam essas técnicas. O que aconteceu foi o que o rádio esqueceu isso. O rádio foi para o hardnews e esqueceu os documentários.”
Então, se você recentemente desenvolveu o gosto por podcasts narrativos, vou deixar aqui algumas sugestões de obras que talvez você ainda não conheça.
Narrativo de não-ficção

Sabemos que, cada vez mais, comer é um ato político. Prato Cheio, o podcast do portal de jornalismo independente “O joio e o trigo” investiga a alimentação e a sua relação com a política, cultura, economia, história e sociedade. Um dos meus episódios favoritos é “A moça da lata”, sobre como a Nestlé reescreveu a história dos doces brasileiros.
Audio drama

Já pensou em como seria a rotina de trabalho de uma Siri ou Alexa se fossem pessoas reais? No podcast Sofia, um original Spotify produzido pela Gimlet Media, a gente conhece a história de Helena, uma mulher que consegue um emprego na empresa responsável por Sofia, uma assistente de inteligência artificial.
Documental com audio drama

Você já ouviu falar na história real de uma falsa herdeira alemã que dá o golpe em diversos personagens na high society de Nova York? Talvez sim, pois essa história também está retratada na série Inventando Ana, da Netflix. Mas eu te garanto: o podcast é melhor! A obra da BBC está disponível apenas em inglês e mistura elementos de documentário com atuação.
Se quiser enviar sugestões de pauta para A Era do Áudio, envie um email para aeradoaudio@gmail.com ou me mande um alô nas redes sociais. A Era do Áudio está disponível em todos os tocadores de podcast. Você também pode ajudar A Era do Áudo no Apoia.se com uma contribuição avulsa a partir de R$3.
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