A Orelo, uma plataforma de podcasts brasileira, foi lançada em 2020. O principal foco da empresa é ajudar creators a se conectarem com seu público, oferecendo ferramentas como newsletters e fóruns, além de remunerar podcasters por meio de apoios da sua audiência e plays na plataforma.
O CastNews conversou com o fundador e CEO da Orelo, Luiz Felipe Marques, sobre a empresa, o mercado brasileiro de podcasts, planos para o futuro e como as ferramentas da plataforma podem ajudar os creators a expandir seus conteúdos a outros formatos.
Já são três anos da Orelo no mercado e, apesar das mudanças na indústria, Luiz Felipe Marques é incisivo ao falar que o objetivo da Orelo se manteve o mesmo: ajudar o produtor independente de conteúdo a poder viver da criatividade, da informação e de seu trabalho: “O mercado de podcasts passou por mudanças gigantes e a relação dos creators com o seu público vem amadurecendo muito e muito rápido. Mas o objetivo da Orelo segue o mesmo”, diz ele.
Luiz vê as mudanças como positivas e ressalta, dentre elas, esse amadurecimento. “Claro que ainda há muito o que evoluir, tem muita coisa pela frente, mas eu acredito que os podcasters e a indústria estão mais maduros. Quando começamos, há três anos, todos estavam um pouco deslumbrados, experimentando muito, mas hoje já existe um pensamento de ‘qual meu objetivo com meu podcast?’ porque todos sabem que há como ganhar dinheiro com isso, de viver disso”, complementa.
Mas apesar dessa clareza de objetivo, a remuneração segue sendo o principal desafio dos creators. Para ele, a principal fronteira para muitos deles é exatamente entender como poder viver de seus projetos independentes – e a Orelo se firma como um ajudante nisso.
O mercado brasileiro
Outro ponto abordado na entrevista com Luiz Felipe Marques foi o mercado brasileiro de podcasts. O Brasil é o segundo maior mercado de podcasts do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos – mas existe uma enorme diferença entre ambos.
Ainda no campo da remuneração, Luiz comentou da dificuldade do podcaster brasileiro remunerar seus projetos por meio da publicidade. Algo que, nos Estados Unidos, é bastante consolidado. “Não acho que daqui a alguns anos o mercado brasileiro vai ser o mercado dos Estados Unidos. Acho que temos características locais que nos fazem diferente”, ressalta.
Para Luiz, a principal característica brasileira é a chamada long tail, ou cauda longa, em português. “Existem 5 ou 10 podcasts brasileiros com milhões de ouvintes no Brasil, mas existem milhões de podcasts com audiências bem menores. Eu acho que a indústria deveria olhar para eles. Acredito que é mais interessante olhar para esses projetos que têm centenas, ou milhares de fãs, mas que possuem uma relação muito próxima com eles”, comenta.
A Orelo foca exatamente nesses projetos, oferecendo auxílio para esses criadores na veiculação de suas criações e aumento de suas audiências. A empresa busca manter uma relação mais pessoal com cada um deles, ouvindo suas dificuldades e buscando formas de melhorar sua plataforma para auxiliá-los.
“É muito difícil para o creator pequeno ter uma notoriedade ou chamar a atenção das plataformas muito grandes, mas eu acredito que é ele quem move a indústria. Milhões de creators com mil fãs? É isso que move a indústria. Nosso olhar precisa estar voltado cada vez mais, claro, para o todo, mas em como empoderar esse creator que tem menos fãs, mas fãs muito engajados. É isso que move a Orelo, pelo menos”, diz Luiz Felipe Marques.
As ferramentas da Orelo
Na busca por melhorar a experiência do creator, a Orelo oferece uma série de ferramentas em sua plataforma. Lá, o podcaster consegue gerar newsletters ou textos para disponibilizar aos seus ouvintes, além de gerar fóruns de discussão com eles.
Há também a possibilidade de criar “tiers” personalizados de apoio, onde os ouvintes contribuem com seus projetos prediletos. O creator pode definir o valor de cada tier e definir se inclui algum conteúdo exclusivo para cada tipo de assinante.

O CastNews perguntou ao Luiz sobre a importância desses outros conteúdos para o ouvinte e para o creator. Luiz foi enfático ao dizer que essas ferramentas agregam para ambos, uma vez que o podcast não se limita apenas aos episódios. Os ouvintes buscam uma maior proximidade do podcaster, e os podcasters veem na Orelo uma facilidade ao ter uma plataforma que reúne todas as ferramentas necessárias para isso.
“Outro pedaço desse amadurecimento do mercado é exatamente esse entendimento que o podcast é muito mais que o áudio, do que o episódio. O podcast é um projeto. Claro, cada episódio é o carro-chefe, mas o projeto envolve muito mais coisa. A ideia da Orelo em oferecer ferramentas é para deixar tudo mais rico e centralizado em um único lugar. E então cada projeto usa isso da forma que fizer mais sentido”, complementou Luiz.
Ele citou como exemplo diversos podcasters que fazem um excelente uso das ferramentas da Orelo, dentre eles o Rodrigo Alves, do podcast Vida de Jornalista. Rodrigo para além de seus episódios, oferece oficinas de podcast e narrativa, e muitos outros conteúdos extras. Ele inclusive disponibiliza seus roteiros por meio da Orelo.
“A Orelo entendeu muito cedo que o podcast é um projeto que tem muito mais coisa envolvida. É interação, é conteúdo, é assunto”, diz Luiz.
Já com relação ao ouvinte, é preciso analisar cada podcast individualmente para entender o que mais faz sentido para sua audiência e a periodicidade. “Não são todos os podcasters que usam a newsletter, por exemplo, porque não faz sentido para a audiência deles”, diz. Para além de conhecer o público, Luiz também incentiva os podcasters a testar os recursos disponíveis e ver o que funciona.
Planos para o futuro
Outro ponto abordado com o Luiz foi sobre o futuro da Orelo. Dois pontos específicos, em especial: a possibilidade de podcasts exclusivos da plataforma e novas ferramentas no radar.
Com relação ao primeiro ponto, conteúdos exclusivos não são novidade para a Orelo. A empresa chegou a lançar mais de 40 podcasts exclusivos em seus primeiros anos de vida, dentre ele o Oculto com Gabriel Leone e Bianca Comparato, lançado em 2021.

Com o passar do tempo, o modelo de negócios da empresa mudou e os podcasts exclusivos acabaram ficando de lado. “Hoje a gente trabalha de um jeito um pouco mais indireto na remuneração dos creators, servindo como ponte. Nós vimos que ajudamos mais os creators assim, sendo esse meio de ligação e trabalhando como plataforma”, disse Luiz.
Mas o CEO não descarta a possibilidade de voltar com essas produções, atuando como investidor ou co-produtor. “Nós somos apaixonados por podcasts. Já recebemos várias propostas e tivemos muita vontade de fazer. Precisamos focar no que já estamos fazendo – mas é uma tentação constante”, brinca.
Já no que diz respeito às ferramentas, Luiz contou que a empresa está trabalhando em uma série de melhorias. Uma que deve ser lançada em breve é a automação do pagamento para os creators. Dessa forma, a pessoa pode acessar o site da Orelo e realizar um saque quando desejar, sem precisar esperar o e-mail da empresa com o extrato e agendamento do pagamento.
A Orelo também está estudando formas de implementar serviços financeiros que auxiliem os podcasters a terem maior previsibilidade de seus ganhos mês a mês. “Nós sabemos que a rotina do creator é dura e que há muita imprevisibilidade envolvida. Se um mês ele produz menos, por exemplo, isso pode significar menos ganhos também. Estamos estudando bastante para ajudar o creator a ter uma maior segurança financeira”. Essas medidas devem ser incorporadas mais adiante.
Por fim, a última novidade anunciada por Luiz foi a incorporação de vídeos na plataforma. Segundo ele, muitos creators pediram essa funcionalidade e a Orelo está correndo para oferecer isso quanto antes. “Essa funcionalidade de vídeo não é pensando necessariamente em videocasts. O creator vai utilizar essa ferramenta como ele quiser, mas ideia é disponibilizar a opção do vídeo como um conteúdo extra que pode ser oferecido ao apoiador ou a quem o podcaster desejar”, disse.
Ainda não há datas precisas para tais lançamentos, mas podemos esperar essas e muitas outras novidades da Orelo. O importante é que o foco se mantenha o mesmo – colocar o creator e sua relação com seus ouvintes em primeiro lugar.